“Ferramentas ergonômicas”: qual a utilidade?

O post de hoje traz artigos científicos (clique nos parênteses do texto abaixo) que retratam uma discussão antiga – mas ao mesmo tempo atual – no campo da ergonomia: qual a utilidade das chamadas “ferramentas ergonômicas“?

Por um lado, artigos como o de Adelson Lima (Proposta de um projeto conceitual para alinhamento de blocos de aço de grandes dimensões em fresadora CNC) sintetizam estudos ergonômicos através de aplicação de tais ferramentas, quando o autor defende que realizou um “estudo ergonômico do posto de trabalho pelo método Suzanne Rodgers”. Nessa linha, Ana Carla Oliveira, Raquel Silva e João Pedro Domingues sustentam a eficiência das ferramentas RULA e QEC (As Lesões Músculo-Esqueléticas nos Técnicos de Balneoterapia) afirmando que “com medidas simples como a formação dos profissionais e informação sobre posturas correctas da coluna, se reduz consideravelmente o risco de LMERT”. Por fim, Moacyr Junior analisa as ferramentas RULA, REBA e OWAS (Avaliação ergonômica: revisão dos métodos para avaliação postural) dizendo que “todos os métodos apresentam potencial para aplicação e que propiciam uma sistemática de avaliação”, permitindo “uma padronização na coleta de dados”.

Como contraponto a essa abordagem, Luis Ulisses Signori, Lia Buarque e Renan Sampedro, ao analisarem a aplicabilidade e fidedignidade de 9 instrumentos utilizados por ergonomistas (Análise dos instrumentos utilizados para a avaliação do risco da ocorrência dos D.O.R.T./L.E.R) defendem que “há uma heterogeneidade dos resultados entre os nove instrumentos utilizados na pesquisa, sendo que no mesmo posto de trabalho o risco foi classificado como baixo, moderado ou alto, dependendo do instrumento empregado”. Florentino Serranheira e António Uva, ao estudarem as ferramentas RULA e SI (Avaliação do risco de LMEMSLT: aplicação dos métodos RULA e SI) sustentam que “dos resultados globais da aplicação dos métodos identificam-se discrepâncias evidentes: o método SI classificou 41 postos de risco elevado e o método RULA classificou apenas 26 postos de risco”, concluindo que “pela divergência de resultados dos métodos SI e RULA aplicados nos mesmos postos de trabalho que tal situação alerta para a pertinência da utilização de um filtro que permita a identificação dos factores de risco presentes em cada posto de trabalho e que, por consequência, oriente a selecção do método mais indicado ou ainda, em oposição, do método contra-indicado”. Por fim, Raoni Rocha, na avaliação da ferramenta de análise de atividade KRONOS (Kronos), defende que tais ferramentas, “por si só (e sem observações do pesquisador ou entrevistas com os trabalhadores)”, não devem determinar diagnósticos de situações de trabalho, mas sim serem utilizadas como formas de dar “sustentação ao primeiro e principal objetivo de analistas do trabalho: compreender este trabalho, para então buscar formas de transformá-lo e desenvolvê-lo”.

Assista também a crítica às ferramentas ergonômicas neste vídeo aqui:

4 comentários

  1. Achei extremamente pertinente a matéria, já que a ergonomia tem um grande número de fisioterapeutas, o qual me incluo, e que determinam, não só eles, mas muitas empresas privadas que, usar ferramenta trás confiabilidade ao trabalho, ou caso contrário, desqualifica o que chamamos “analisar a atividade em si”. Podem ser úteis, porém, acredito eu, deve ter sua utilização cautelosa e não disseminada como obrigação para análise ergonômica.

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  2. […] É sempre importante reforçar o limite das chamadas “ferramentas ergonômicas” na produção de diagnósticos e intervenções. Apesar de muitas empresas e alguns profissionais utilizarem as ferramentas como objeto principal (ou único!) de análise, elas são apenas uma pequena parte – normalmente utilizada numa fase de observações sistemáticas do trabalho – de toda a análise qualitativa. A respeito disso, já publicamos um post que pode ser relido aqui. […]

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